União Soviética ainda tem seu domínio '.su' na internet.
Endereços refletem as discussões políticas do mundo.

Reconhecido como país independente pelo Sudão no dia 8 de julho e integrado como membro da ONU no dia 14, o Sudão do Sul aguarda ter seu endereço na internet. O país já solicitou a terminação “.ss” para a Icann – órgão máximo para controle de nomes na web –, mas há a possibilidade de ser rejeitado por ser abreviação da Schutzstaffel, a polícia nazista de Hitler.
Desde o dia 14, o mesmo em que se tornou parte da ONU, o país já tem seu código internacional para chamadas telefônicas, o +211. Mas, enquanto o país aguarda por um nome, a confusão nos domínios da internet permite a existência da União Soviética na rede – extinta há quase 20 anos.
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Localização do Sudão do Sul. País obteve a independência no dia 8 de julho e já tem código de chamada internacional (Foto: Reprodução) |
O Sudão usa a terminação “.sd” para seus sites. Essas terminações, entre as quais está a brasileira (.br), a japonesa (.jp), a de Portugal (.pt) e a Argentina (.ar) são chamadas de ccTLDs ou “Domínio de Alto Nível de Países”. Cada país tem o seu – exceto o Sudão do Sul. A Icann pretende abrir o processo de domínios de nível alto e permitir a compra desses endereços – uma mudança radical para a estrutura da internet.
Entre os países que não existem mais e que ainda têm um domínio de nível alto está o Timor Português (hoje Timor Leste), que usava a terminação .tp (hoje .tl) e o .an, das Antilhas Holandesas, que se dissolveu em outubro de 2010 para formar três novos países. Os países já têm suas terminações – cw, sx e bq –, mas ainda estão utilizando o antigo domínio das Antilhas, o “.an”.
A Icann considera que esses domínios estão em fase de desligamento e seus usuários devem migrar para outros.
O caso mais emblemático é o da União Soviética. Extinta em 1991, o domínio “.su”, usado pelo país, permanece em existência até hoje. Domínios .su novos ainda são vendidos e registrados na Rússia – algo que deveria ter acabado. Segundo uma reportagem da Associated Press em 2008, a terminação “.su” é popular com saudosistas e manifestantes a favor do comunismo soviético.
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Pelo menos 15 mil novos domínios foram registrados no .su (União Soviética) desde 2009. Há 95 mil sites com a terminação, segundo estatísticas da organização responsável (Foto: Reprodução) |
'Bizarrices' nos domínios vão além
Existe uma terminação destinada para organizações internacionais como as Nações Unidas e a Otan – o .int. Essa mesma terminação também é usada pela Interpol, a polícia internacional. No entanto, a página principal das Nações Unidas fica em “un.org”, enquanto agências como a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO, na sigla em inglês) e a União Internacional de Telecomunicações (ITU, em inglês) ficam nos domínios wipo.int e itu.int, respectivamente.
Curiosamente, a União Europeia tem o status de país, com sua própria terminação: .eu – apesar de não ser um país. Mesmo assim, muitas organizações europeias como a Agência Espacial Europeia (ESA) e o Banco Central Europeu estão usando a terminação .int (esa.int e ecb.int).
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Alguns países querem que a Icann tenha um controle mais internacional, dentro da ONU. Hoje, organização faz as próprias regras e obedece aos EUA (Foto: Reprodução) |
A Antártida, apesar de ser um continente e não um país, tem sua própria terminação, .aq, que é gerenciada por uma entidade na Nova Zelândia. O arquipélago das ilhas Heard e McDonald.
O continente asiático tem o domínio “.asia”, que é categorizado como um domínio “patrocinado” – domínios especializados em servir uma comunidade específica. A cultura catalã também tem o seu, “.cat”.
Os Estados Unidos tem seu próprio domínios de país, o “.us”. Mesmo assim, o governo americano e as instituições de ensino norte-americanas têm o monopólio dos domínios “.gov”, “.mil” e “.edu”.
A Arpanet, a primeira rede criada e que acabou gerando a internet, dá nome à terminação “.arpa”. Essa terminação é utilizada em aspectos técnicos da rede e não está liberada para registro. A sigla Arpa, em inglês, significa hoje “Área de Endereçamento e Parâmetro de Roteamento”.
Outros domínios
Os territórios de São Bartolomeu, na França – cerca de oito mil habitantes – estão com a terminação .bl, mas ainda não a estão utilizando. A mesma situação é a do domínio de São Martinho (.mf).
A Ilha Bouvet, na Noruega, tem seu domínio “.bv”, mas não é utilizado, situação idêntica à do domínio .sj dos territórios de Svalbard e Jan Mayen, também na Noruega. A Grã-Bretanha tinha o domínio “.gb”, hoje fechado para registro. O domínio oficial do Reino Unido é o “.uk”.
O Saara Ocidental já tem o domínio reservado “.eh”, ainda desativado porque há disputa pela região africana, que é reivindicada pelo Marrocos e pelo movimento Frente Polisário. O domínio .dd, pertencente à Alemanha Oriental, estava pronto para ser adicionado, mas nunca o foi e a Alemanha foi reunificada.
Está claro que as histórias de atribuições de novos endereços na internet refletem as discussões políticas do mundo “real”. Mas enquanto alguns países que nem existem mais – como a União Soviética – e países que ainda nem surgiram – como o Saara Ocidental – já tem um endereço, o Sudão do Sul ainda terá de esperar mais um pouco e continuar dependente do domínio “.sd”.
Até lá, eles já podem usar o telefone.